Programa de trainee da Magazine Luiza para negros gera polêmica
September 21 2020 - 7:14AM
Newspaper
O Magazine Luiza (BOV:MGLU3) abriu
nesta sexta-feira (18) as inscrições para seu programa
de trainee 2021, com salários de R$ 6.600 mais bônus de
contratação de um salário. Diferentemente das edições anteriores,
as vagas deste ano são exclusivamente voltadas para pessoas
negras.
Atualmente, 53% do quadro de funcionários do Magazine Luiza são
pretos e pardos. Desses, apenas 16% ocupam cargos de liderança.
“O Magazine Luiza acredita que uma empresa diversa é uma empresa
melhor e mais competitiva. Queremos desenvolver talentos negros,
atuar contra o racismo estrutural e ajudar a combater a
desigualdade brasileira”, diz Patrícia Pugas, diretora executiva de
Gestão de Pessoas.
Podem se inscrever candidatos formados em qualquer curso
superior entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020. As vagas são
para trabalhar em São Paulo, mas pessoas de todo o Brasil podem
participar. O Magazine Luiza vai dar auxílio mudança aos
selecionados que sejam de fora da cidade.
Conhecimento em língua inglesa e experiência profissional não
são pré-requisitos para a seleção.
O processo seletivo foi desenvolvido em parceria com as
consultorias Indique Uma Preta e Goldenberg, Instituto Identidades
do Brasil (ID_BR), Faculdade Zumbi dos Palmares e Comitê de
Igualdade Racial do Mulheres do Brasil. São seis etapas: testes
online, vídeo de apresentação profissional, entrevista com o RH,
entrevista com diretores da área, entrevista com a diretoria
executiva e conversa com o CEO Frederico
Trajano.
Os benefícios oferecidos pelo Magazine Luiza vão desde plano
médico e odontológico, vale-transporte e vale-refeição a descontos
em produtos, gympass, home office híbrido e bolsa de inglês.
Assuntos mais comentados e polêmicas
A decisão da Magazine Luiza em colocar apenas negros no
próximo programa de trainees foi um dos assuntos mais
comentados do momento no Twitter neste sábado (19).
A decisão da empresa abriu um disputa nas redes sociais entre
os que elogiam a medida e aqueles que acusam a Magalu de “racismo
reverso” com brancos, usando a hashtag #MagazineLuizaRacista.
Dentre os críticos, estão o vice-líder do governo na Câmara,
deputado Carlos Jordy. O deputado afirmou que está entrando com
representação no Ministério Público contra a empresa para que seja
apurado crime de racismo.
A Magazine Luiza respondeu ao deputado pelas redes sociais
dizendo que a empresa tava tranquila da legalidade do programa.
“Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado
profissional, de pessoas discriminadas há gerações fazem parte de
uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”,
escreveu por meio do perfil oficial.
O deputado rebateu dizendo que a situação prejudicava
pessoas não negras: “ações afirmativas, tais como cotas, existem e
são até previstas em lei para ingresso no ensino e serviço público,
apesar de discordar frontalmente de cotas raciais. Porém, a ação da
@magazineluiza não se trata de uma ação afirmativa mas de impedir a
contratação de pessoas não negras”.
O Presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo,
faz coro às acusações de racismo. “Magazine Luiza terá que
instituir Tribunal Racial no seu RH para evitar que pardos e
brancos consigam fraudar o processo seletivo que é exclusivo para
pretos. Portanto, terá que fazer a análise do fenótipo dos
candidatos, prática identificada com o nazismo.”
Já a deputada federal Benedita da Silva (PT) compartilhou a
matéria do Broadcast/Estadão em sua
conta na rede social e destacou que a Magalu tem 53% de pretos e
pardos em seu quadro de funcionários, mas apenas 16% deles em
cargos de liderança.
A deputada ainda se mostrou contrária a publicação da
juíza do Trabalho Ana Luiza Fischer Teixeira de Souza Mendonça que
afirmou nas redes sociais, segundo a Folha de São Paulo, que o
programa era inadmissível e proibido pela Constituição Brasileira.
A juíza apagou a publicação após as críticas.
Componente Matemático
Segundo o presidente da empresa, Frederico Trajano, um
componente matemático foi o motivo da decisão da empresa em colocar
apenas negros. De um lado, há o desequilíbrio entre o número
de funcionários e o de lideranças negras dentro da empresa. Por
outro, ter à frente pessoas que refletem a realidade da população
brasileira levará a tomadas de decisão que aumentarão as vendas – e
gerarão maior valor ao acionista. “Somos responsáveis por quem
selecionamos e promovemos”, diz. “Claramente, se temos 53% da
equipe negra e parda e só 16% de negros e pardos em cargos de
liderança, há um problema para resolver com uma ação concreta.”
Perguntado se a decisão teve a ver com demandas de investidores,
o presidente foi enfático: “Definitivamente, não de investidores.
Não espere isso tão cedo. Embora exista a pauta de ESG (meio
ambiente, sustentabilidade e governança, da sigla em inglês),
ainda não chegamos lá. Fizemos uma pesquisa interna. Eu não sabia,
mas 53% da nossa equipe é formada por negros e pardos. Na mesma
pesquisa, vimos que apenas 16% dos nosso líderes eram negros e
pardos. Isso acendeu um sinal amarelo ou vermelho. Nunca nos
posicionamos em relação à pauta racial porque não havia um
diagnóstico claro dessa questão. A partir da pesquisa, vimos que
tínhamos uma anomalia, um problema concreto. Somos muito
pragmáticos. O caminho mais curto para se chegar à liderança é o
programa de trainee. Porém, nos programas anteriores – e eu sempre
entrevisto os finalistas –, a gente sempre tinha só uma pessoa
negra ou parda no final. Então, de certa maneira, não estávamos
conseguindo atrair e selecionar essas pessoas. Precisávamos fazer
algo diferente. Não é oportunismo. Queremos resolver um problema
que sabemos que temos. Estamos sendo honestos em relação à
necessidade de mudar uma realidade que nós mesmos criamos. Somos
responsáveis por quem selecionamos e promovemos”.
MAGAZINE LUIZA ON (BOV:MGLU3)
Historical Stock Chart
From Apr 2024 to May 2024
MAGAZINE LUIZA ON (BOV:MGLU3)
Historical Stock Chart
From May 2023 to May 2024