Apesar do crescimento em quase todas as unidades de negócios, o
aumento de 18% nas despesas operacionais prejudicou parcialmente o
lucro do BTG Pactual, principalmente devido a bônus, salários e
maiores pagamentos de impostos.
A captação líquida nos últimos três meses foi mais na asset, com
R$ 11,8 bilhões a mais, e em wealth management, com incremento de
R$ 10,7 bilhões. Conforme o banco, não houve redução de taxas
médias de administração na asset, mas houve impacto em receita por
conta da periodicidade de taxas de performance.
“Grosso modo, o volume de novo dinheiro é mais crescente no
segmento onde a gente não tinha presença consolidada. A gente tinha
em altíssima renda, agora estamos consolidando em alta renda e
vamos começar a atacar em breve o segmento também de varejo, ao
lançar a plataforma completa”, disse Sallouti.
Sallouti: Volume de dinheiro novo crescente no segmento em que
banco não tinha presença consolidada — Foto: Claudio
Belli/Valor
João Dantas, diretor financeiro do banco, complementou que essa
composição traz menor pressão sobre taxas no novo cenário de juros
muito baixos. “Com taxa de juro nominal mais baixa, há uma pressão
natural sobre taxas de administração, de performance e spreads, mas
que é menor no nosso caso, pela composição de nossa carteira. No
segmento corporativo e institucional, as taxas já são bastante
competitivas, e aumentam no segmento de varejo, onde nossos
concorrentes sentem mais essa pressão”, disse.
Os executivos destacaram que o banco segue a estratégia de
avanço na plataforma digital para o varejo e que os cartões de
crédito, débito e conta corrente do BTG em fase de testes com
milhares de clientes devem ser lançados até o fim do ano.
O banco promete continuar também na estratégia de atrair
escritórios de agentes autônomos para sua plataforma. “Acho
relevante destacar que, na média, após seis meses de migração, os
escritórios de agentes que temos atraído tendem a alcançar 100% dos
ativos sob gestão que possuíam antes da migração para o BTG”, disse
Dantas.
O banco não tem controle se são clientes novos ou os mesmos
clientes, mas diz que o relevante é o volume final. “Estamos
satisfeitos com essa estratégia B2B de atrair clientes através de
agentes autônomos”.
Sallouti confirmou que há custo nessa estratégia, mas sem
revelar números. “Como tem certo risco (para o escritório), existe
um pagamento financeiro que deixa ele confortável em seguir esse
risco”, sintetizou.
Ele disse que há formas diferentes de remuneração dos
profissionais dessa área de gestão do capital, com composições de
salário e bônus, salário e comissão, rebate, e atendimento direto
no canal digital. “São ofertas diferentes para diferentes tipos de
profissionais, e para o cliente, se quer algo mais independente ou
mais integrado ao banco. Temos os quatro modelos”, disse.
O banco aumentou o volume de atividade e crédito no segundo
trimestre utilizando mais seu balanço, mas sem aumento de exposição
a risco. “É raro ter um trimestre em que todas as franquias
entregam resultados tão consistentes quanto este, especialmente num
período tão desafiador”, disse Sallouti.
“Foi um trimestre em que a gente pôde apoiar os clientes e a
sociedade, com nossa equipe com saúde em casa, e gerar valor para
os acionistas.”
A carteira de crédito do banco aumentou quase R$ 10 bilhões no
segundo trimestre, com crescimento de R$ 500 milhões em pequenas e
médias empresas, mantendo as provisões na casa de 4% da carteira
total. “Os spreads das novas transações, assim como em PMEs, foram
bastante atrativos e a carteira que já tínhamos antes da pandemia
segue performando de maneira bastante adequada”, disse Dantas.
A atividade de corretagem e intermediação foi recorde no
trimestre, complementada por resultados das mesas de ações e
câmbio. Dantas destacou ainda que, apesar de os volumes em emissões
de dívida terem sido menores em comparação a outros períodos, foi
basicamente no mercado local. “O mercado de dívida internacional,
de colocação de bonds, é um mercado de taxas bem menores, na média,
do que as taxas praticadas no mercado local. Como quase a
totalidade de transações no trimestre foi local, conseguimos
capturar essa receita maior”, explicou.
Os executivos destacaram que a base de funding do banco cresceu
31% trimestre contra trimestre. No período, esse aumento foi de R$
18,9 bilhões, que veio principalmente do crescimento de depósitos
locais, com emissões de letras financeiras e CDB no Brasil e no
Chile. O índice de Basileia do banco aumentou de 19,4% para 19,6%
do primeiro para o segundo trimestre. Dantas destaca que tem se
mantido na casa de 20%, acima da média de 15% dos grandes bancos
privados brasileiros.
A medida de risco VaR (“Value at Risk”) média total diária
aumentou de 0,4% para 0,5% do patrimônio líquido médio do primeiro
para o segundo trimestre – mas ainda abaixo da média histórica. No
comparativo de seis meses, caiu de 0,71% em 2019 para os atuais
0,5%.
“Mesmo com VaR mais baixo, a gente consegue gerar receita mais
alta. Temos limite para aumentar o VaR, mas não estamos nesse
momento vendo alguma posição direcional que mereça grande alocação
do banco e faça esse número subir no 3º ou 4ª trimestres”, disse
Sallouti.
Para Dantas, os resultados vêm da combinação de três fatores.
“Além do resultado, nossos ganhos de market share vêm da
recuperação dos mercados, impulsionados por estímulos monetários,
dos significativos investimentos na nossa infraestrutura e
tecnologia, com ampliação de ofertas de produtos em meios digitais,
e da força do nosso balanço”, disse. “Colocamos um pouco mais de
capital para trabalhar, mas mantendo índices de capitalização
bastante elevados.”
Visão do mercado
Para Luis Sales, analista de empresas da Guide
Investimentos, o Impacto é Positivo. O banco apresentou
crescimento em seus números baseado no contínuo crescimento da
maioria de suas linhas de negócio e fortes resultados nas franquias
de clientes. O resultado veio acima do esperado pelo mercado.
Fonte Valor Econômico