Quem olha para o desempenho das ações da Petrobras no acumulado
de 2023, com as ações ordinárias subindo 38% e os papéis
preferenciais saltando 47% (e acumulando ganhos similares em doze
meses), mal poderia imaginar o cenário de desconfiança que havia se
instalado para a companhia com a entrada do novo governo,
considerado mais intervencionista.
Diversas casas rebaixaram a recomendação após a eleição do
presidente Lula, à espera de que as ações da empresa sofressem com
a deterioração de três pilares importantes para seus ativos num
passado recente: o reajuste dos preços de combustíveis; a política
de forte pagamento dividendos e disciplina de capital.
Porém, durante esse ano, tanto a alta do petróleo quanto a visão
de que esses três pilares não foram tão abalados impulsionaram as
ações ao longo do ano e levaram muitos analistas a refazerem as
contas e voltarem a recomendar compra para os ativos (ainda que
outra parte seguisse “desconfiada”).
O alívio com o anúncio da nova política de preços (ainda que
tenha gerado dúvidas no mercado) em maio, a divulgação em julho de
uma política de dividendos de 45% do fluxo de caixa livre (menor
que a 60% da anterior, mas ainda robusta) e os sinais de
racionalidade com investimentos, ainda que maiores, contribuíram
para esse movimento.
Contudo, após essa alta das ações, com a divulgação dos
resultados do segundo trimestre (em linha com o esperado, mas com
destaque negativo para a margem de refino), a visão de menos
dividendos (ainda que robustos) e os preços de combustíveis se
descolando dos valores internacionais, analistas passaram a se
questionar mais. Afinal, é hora de embolsar o lucro com as ações e
ir atrás de outras opções no mercado ou elas ainda têm espaço para
subir?
Analistas ficaram ainda mais divididos após os números da
companhia apresentados na última quinta-feira e também após as
declarações da direção da empresa depois do balanço.
A direção da empresa deu diversas sinalizações na sexta, em
teleconferência após resultados. A empresa comentou que, desde que
preservada a sustentabilidade financeira da empresa, poderia
distribuir o excesso de caixa por meio de dividendos
extraordinários, o que foi visto como positivo.
Enquanto isso, reafirmou que o cenário mundial é muito volátil
no curto prazo, principalmente em termos de demanda. Assim, de
acordo com a política de não repasse da volatilidade de preços,
segue confiante em sua atual estratégia comercial e buscar ajustes
de preços, se necessário, mas não pode antecipá-los, uma vez que as
condições de mercado são mudando constantemente.
Sobre investimentos, reafirmou que está apta a cumprir com
contratos próprios e está expandindo plantas de refino, com algumas
importações pontuais. Nesse sentido, vem aumentando a utilização de
ativos de refino e de logística. A empresa destacou que ainda está
aberta para parcerias em projetos renováveis e que tem recebido
diversas propostas de parcerias em eólica offshore, eólica onshore
e solar, mas apenas prosseguirá com as que se enquadrarem no plano
de negócios da empresa e comprovadamente viáveis
economicamente.
Neste cenário, algumas casas estão mais negativas, como UBS BB e
Genial Investimentos, que possuem recomendação de venda para as
ações.
Para a Genial, apesar de um resultado operacional ainda
razoável, os analistas da casa acreditam que os dados da Petrobras
(BOV:PETR3) (BOV:PETR4) do segundo trimestre devem ser observados
com maior detalhamento tendo em vista a nova orientação comercial
da empresa.
Para além dos “grandes números” (receita, Ebitda, dividendos,
entre outros) – que vieram em condições ainda razoáveis, os
analistas chamam a atenção para alguns pontos como a evolução da
dívida bruta, que saltou de US$ 53 bilhões no 1T23 para US$ 57,9
bilhões no 2T23.
“Vale lembrar que a política de dividendos (45% fluxo de caixa
operacional – Investimentos) só é válida desde que a dívida bruta
não ultrapasse US$ 65 bilhões, fazendo com que a empresa perdesse
um dos seus principais atrativos”, apontam.
Para os analistas da Genial, afirmar categoricamente que a
dívida vai alcançar o limite é extremamente precoce, tendo em vista
a discricionariedade da aplicação dos reajustes no preço dos
combustíveis e a própria evolução dos preços do petróleo.
Porém, vê grandes incertezas à tese, como o:
- deságio dos preços dos combustíveis em relação aos preços de
paridade internacional,
- Investimentos em novas refinarias (a despeito do passado
controverso no desenvolvimento de suas últimas refinarias),
- aumento do uso da empresa como apoio para políticas de conteúdo
nacional, o que deve pressionar a linha de investimentos da
empresa, rumores/possibilidade de uso da empresa para recompra de
ativos previamente vendidos (refinarias, BR Distribuidora/Vibra
(BOV:VBBR3) e outras.
Assim, por enquanto, a Genial mantém a recomendação de venda
para os papéis, com preço-alvo de R$ 25 para os ativos PETR4. A
casa de research vê outros pares mais atrativos que negociam com
múltiplos em linha, mas teses menos expostas.
O UBS BB, que tem recomendação de venda para as ações, com
preço-alvo de R$ 22 para PETR3 e PETR4, apontou que a companhia
está convergindo para o seu “novo normal”.
Enquanto isso, pouco menos de dois meses após elevar a
recomendação para equivalente à compra (overweight, ou desempenho
acima da média do mercado), o JPMorgan cortou a recomendação para
os ativos da estatal logo após o resultado do segundo trimestre
para equivalente à neutra.
Os analistas do banco apontaram que as ações da Petrobras
acumulam forte alta no ano com as indicações da diretoria que vão
respeitar os três principais pilares da empresa: disciplina de
alocação de capital, política de preços e distribuição de
dividendos.
Contudo, depois do balanço, que os analistas consideraram um
pouco mais fracos do que o esperado, pressionados principalmente
pelo refino, tomaram uma posição mais conservadora em relação à
empresa e querem ver uma melhor execução desses pontos.
Eles veem que boas notícias que esperavam ter ocorrido
provavelmente já estão precificadas após o forte desempenho dos
ativos no acumulado do ano.
“Ouvimos a nova administração sobre os três principais pilares
de valor para a Petrobras – disciplina de capital, política de
preços e política de dividendos. Isso, acreditamos, levou as ações
da Petrobras a ter um dos melhores desempenhos em 2023”,
apontam.
Assim, o JPMorgan aponta estar menos confortável em carregar o
papel, pois precisaria contar agora com dividendos extraordinários
para a Petrobras se destacar em relação aos pares em termos de
retorno aos acionistas.
Na mesma linha, o BTG Pactual segue neutro com as ações da
estatal. O banco aponta que as decisões da administração sobre os
principais aspectos da tese de investimento seguiram na direção
certa.
“Mas, com o desconto de múltiplo quase totalmente reduzido em
relação aos pares globais, acreditamos que as ações da Petrobras
estão sendo negociados a preços justos e um potencial gerador de
valor adicional depende da suposição de que a ação será negociada
com um prêmio para os pares (o que consideramos improvável) ou que
a empresa pagará dividendos extraordinários (baixa visibilidade
neste momento)”, avalia.
Assim, com os riscos relacionados ao preço do combustível nas
próximas semanas, acredita que pode haver um ponto de entrada
melhor à frente.
A Levante Corp, devido à nova política de preços, à redução
gradual no pagamento de dividendos e o provável aumento do capex –
“do qual não temos certeza se será de boa qualidade” – optou por
manter uma posição neutra em relação à Petrobras no momento.
“O pré-sal segue sendo o destaque operacional, já que é o
principal ativo da empresa e o seu maior diferencial”, avalia.
Dividendos extraordinários: o que muda para a tese de
investimentos?
O Bradesco BBI destacou que fundos que focam em dividendos e/ou
retorno total tendem a demonstrar interesse em possuir a Petrobras
devido aos elevados dividendos a serem distribuídos nos próximos 12
meses.
Por outro lado, veem o fluxo incremental de notícias
potencialmente se deteriorando, especialmente em meio a um cenário
de preços de petróleo mais altos e um real potencialmente mais
fraco, à medida que o Brasil reduz suas taxas de juros.
“Acreditamos também que o ruído sobre a política de preços de
combustível da Petrobras vai se intensificar, e vemos a gasolina e
o diesel sendo vendidos atualmente com descontos de 10% e 15%,
respectivamente, em relação ao valor marginal”, apontam os
analistas.
Assim, considerando tudo, mantém recomendação neutra, com
preço-alvo de R$ 38,00 por ação PETR4 para o final de 2024 e
dividendos esperados mais robustos.
“Acreditamos que a Petrobras continuará a pagar dividendos
extraordinários robustos, acima do que esperávamos anteriormente.
(…) Embora tenhamos reduzido as projeções de lucros, com base em
nossa nova curva de preço do petróleo, aumentamos o pagamento de
dividendos da petrolífera de uma média de aproximadamente US$ 10
bilhões por ano para os próximos 4 anos, para cerca de US$ 14
bilhões. Nosso preço-alvo estimado para 2024 é derivado de um
dividendo yield justo de 13% até o final de 2026”, avalia.
Na mesma linha de ver dividendos extraordinários, e neste caso
com recomendação de compra para os papéis, está o Goldman
Sachs.
Simulando que a alavancagem da Petrobras terminasse este ano em
cerca de 1,0 vez a dívida líquida sobre Ebitda (lucro antes de
juros, impostos, depreciações e amortizações), ainda assim seria
suficiente para acomodar US$ 4 bilhões adicionais em dividendos,
elevando a alavancagem para apenas cerca de 1,1 vez.
O banco reforça que a gestão da companhia reconheceu a
possibilidade de dividendos extraordinários.
“Além disso, observou que o atual nível de endividamento da
empresa (embora impactado pelo efeito não caixa dos novos
arrendamentos de FPSOs) é confortável e em linha com as
expectativas do plano estratégico em vigor”, aponta, enquanto o
governo (acionista majoritário) tem buscado formas de aumentar as
receitas.
Por outro lado, os analistas do Goldman também destacam os
principais riscos para sua postura otimista sobre a expectativa de
remuneração dos acionistas da Petrobras, como o fato de que fusões
e aquisições podem consumir o fluxo de caixa livre.
“Como referência, caso a Petrobras adquira a Vibra e a Braskem
(BOV:BRKM5), a saída de caixa total poderia chegar a cerca de US$ 9
bilhões. Por fim, observamos que, para cada US$ 1 bilhão em capex
além de nosso caso base, isso impactaria negativamente o rendimento
de dividendos (com base na fórmula de dividendos) em 50
pontos-base, ao mesmo tempo em que diminuiria o potencial de
rendimento extraordinário de dividendos em cerca de 60
pontos-base”, avalia.
A XP também mantém recomendação de compra para o nome, por ainda
ver sólidos fluxo de caixa livre e dividendo yield (dividendo sobre
o valor da ação) para a empresa nos próximos trimestres. “No
entanto, vários riscos permanecem para a tese de investimento, para
não mencionar um fluxo de caixa livre mais baixo à frente”,
avalia.
Mais “neutros” em Petrobras
Assim, cabe destacar que, mesmo ainda havendo uma certa divisão
no mercado, mais analistas têm mostrado “neutralidade” em relação
às ações da Petrobras. Em 8 de julho, de 13 casas consultadas pela
Refinitiv que cobriam PETR4, 6 recomendavam compra, 6 manutenção e
1 venda; um mês depois, de 12 casas que cobriam os papéis, 4
recomendavam compra, 7 manutenção e 1 venda, com preço-alvo médio
de R$ 32,76, ou potencial de alta de 8,5% em relação ao fechamento
da véspera.
Com alguns riscos para a tese de investimentos e o valuation
mais em linha com os pares, mais casas têm destacado outras opções
no setor, ainda que muitos ainda estejam positivos com a tese na
estatal.
A PRIO (BOV:PRIO3) tem se consolidado como a preferida entre
muitos analistas no setor. A companhia é a a maior empresa
independente de petróleo e gás do Brasil, atingiu quase 100 mil
barris de óleo equivalente (boed) por dia. Agora, a expectativa é
para o campo de Wahoo, cuja produção deverá atingir 141 mil boed
até o final de 2025.
A Nord Research destaca, além de PRIO, ainda a PetroReconcavo
(BOV:RECV3) e a 3R (BOV:RRRP3), avaliando que as três empresas
aproveitaram muito bem os ativos da Petrobras para pisar no
acelerador do crescimento.
“A aquisição de campos em terra e no mar que a Petrobras já não
tinha mais interesse faz essas três empresas crescerem sua produção
de forma significativa e sustentável. Além disso, o amadurecimento
das suas operações vem proporcionando ganhos de eficiência e
rentabilidade, algo super importante para empresas que dependem de
commodity”, aponta a casa.
Informações Infomoney
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