A Vale (BOV:VALE3) decidiu suspender a eleição do conselho
de administração na reunião desta sexta-feira, 30. A escolha do
novo board foi adiada para a segunda-feira, dia 3 de maio. A
principal divergência envolveu a contagem de votos destinados ao
ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, apoiado por
gestoras e fundos de investimento.
“Para assegurar a solidez da votação e do regime de voto
múltiplo, a companhia vai suspender a assembleia a esse item e
outros relacionados para maiores apurações”, disse o presidente da
mesa, Luiz Antonio Sampaio.
A assembleia geral ordinária (AGO) levou seis horas. Só a
discussão sobre a escolha do novo conselho tomou em torno de 4
horas e meia, com três interrupções, sendo a última delas por cerca
de duas horas e meia. Primeiro, a assembleia parou para que
acionistas que não haviam votado pelo Boletim de Voto a Distância
(BVD) preenchessem a planilha enviada pela companhia por e-mail
para computar seus votos ao conselho de administração. Depois, para
corrigir um erro apontado por participantes da reunião e que acabou
levando à suspensão da eleição.
Após reclamações de acionistas e dos candidatos Marcelo
Gasparino e Mauro Cunha, indicados por minoritários, a Vale
apresentou o mapa sintético com os votos dados via BVD e dos
detentores de ADRs, certificados de ações da companhia emitidos no
mercado americano. Inicialmente, ele trazia apenas os votos
enviados pelo boletim. O cômputo é essencial para que os
minoritários definam sua estratégia de voto para eleger ao menos
parte de seus quatro indicados.
O resultado indicava Castello Branco na penúltima colocação
entre os 16 candidatos ao colegiado, atrás apenas do japonês Ken
Yasuhara. O representante do grupo Capital, Rodrigo de Mesquita
Pereira, afirmou que os votos de ADRs do grupo Capital no candidato
não foram devidamente computados. A Capital é acionista relevante
da Vale, com um total de 11,3% do capital social.
Pelo mapa divulgado somando votos via ADRs e BVD, em princípio
seriam eleitos três dos quatro nomes alternativos indicados por
minoritários. A exceção seria Castello Branco. Assim, entrariam
entre os eleitos Gasparino, Cunha e a conselheira do Grupo Soma,
Rachel Maia. Entre os 12 nomes indicados da Vale, ficariam de fora
Fernando Buso (Bradespar), José Maurício Coelho (Previ) e Yasuhara
(ex-Mitsui). Diante das divergências, entretanto, o resultado segue
totalmente em aberto. É preciso também computar os votos dados
durante a AGO.
De acordo com o presidente da mesa, os votos conferidos a
Castello Branco foram informados pelo Citi, instituição depositária
dos ADRs. Sampaio disse que a Vale só poderia trabalhar com a
informação oficialmente recebida e que a mesma só poderia ser
retificada pelo próprio banco. A reunião voltou a ser congelada por
quase duas horas para que os acionistas enviassem suas planilhas de
voto, mas na volta foi anunciado o adiamento.
O processo eleitoral na Vale em 2021 é emblemático por se tratar
da escolha do primeiro conselho após o fim do acordo de acionistas
vigente desde a sua privatização, em 1997.
A disputa vem sendo marcada por uma forte oposição entre
minoritários e acionistas de referência como Previ, Bradespar e
Mitsui, que até novembro faziam parte do bloco de controle da
companhia. Donos de 21% do capital da Vale, eles apoiaram (e
tiveram executivos entre) os indicados pela empresa. A mineradora,
entretanto, tem outros acionistas de referência de peso, como
BlackRock (5,29%) e o grupo Capital, com um total de 11,3%. Os
fundos da Capital fazem parte dos que solicitaram o voto múltiplo e
apoiaram outras candidaturas.
Apesar da turbulência, a AGO da Vale aprovou outras matérias.
Foram aprovadas as contas da companhia, a destinação do resultado
do exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2020, o número
de membros do conselho de administração, conforme proposta da
administração, em 13 membros titulares e 1 suplente. Também foi
homologada a reeleição de Lucio Azevedo como representante dos
empregados da companhia. A eleição para o 13º assento no colegiado
se dá em separado.
Além disso, os acionistas aprovaram o pacote de remuneração dos
administradores. A empresa passa a incluir 55% de indicadores não
financeiros entre as metas coletivas. Os incentivos de longo prazo
passam a ser compostos também por metas ESG (20%), não só de
retorno ao acionista. Houve um aumento de 44,3% no valor reservado
para o pagamento dos principais executivos em 2021. A diretoria
receberá um total de R$ 238,7 milhões, incluídos encargos
sociais.
Para o conselho fiscal da Vale, foram eleitos Cristina Fontes
Doherty , Marcelo Moraes, Marcus Severini e Raphael Manhães
Martins, além de três suplentes.
As matérias votadas na Assembleia Geral Extraordinária (AGE),
realizada em seguida, foram todas aprovadas. A votação incluiu as
incorporações, sem aumento de capital e sem emissão de novas ações,
da CPFL e da Valesul pela Vale, além da incorporação do Acervo
Cindido MBR pela Vale e do plano de remuneração baseado em
ações.