Para driblar o risco de escassez de diesel a partir de agosto,
as principais distribuidoras de combustíveis do País aumentaram em
mais de dez vezes o número de licenças de importação do combustível
obtidas junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) nos últimos meses.
Executivos do setor falam em precaução frente à oferta
internacional mais apertada e à imprevisibilidade no fornecimento
da Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4). A estatal reconhece que os
volumes fornecidos não têm acompanhado o aumento nos pedidos das
empresas, mas nega cortes arbitrários em encomendas firmes e
argumenta que pratica rateio da produção em linha com resolução da
ANP.
Sanções
A preocupação se justifica pelo agravamento das sanções contra a
Rússia levando parte da Europa a migrar para o diesel em
substituição ao gás russo, ao mesmo tempo em que começam as férias
de verão no hemisfério norte e a temporada de furacões nos Estados
Unidos. No Brasil, que depende 30% de importações, a demanda tende
a crescer com o escoamento da safra agrícola.
Licenças emitidas passaram de 36 para 433 ao
mês
Levantamento feito pelo Broadcast em relatórios da ANP mostra
que, em abril, a reguladora emitiu 305 licenças de importação de
diesel. Em maio, essas autorizações saltaram para 433, número treze
vezes a média do primeiro trimestre, de 36 licenças por mês. Em
anos anteriores, esse número raramente ultrapassava a casa das 30
emissões mensais. Era assim mesmo antes da pandemia, que rebaixou a
demanda pelo combustível ao longo de 2020 e 2021.
A profusão de licenças para importação de diesel nos últimos
dois meses se concentra nas mãos das três maiores importadoras
brasileiras: Vibra, Raízen e Ipiranga. Nos relatórios da ANP
analisados pelo Broadcast, 81,5% das 848 licenças emitidas nos
primeiros cinco meses do ano pertencem às três empresas. Em termos
de volume autorizado para importação, elas concentram 76,6% do
total.
Em seguida vem a Petrobras, com somente 10 licenças de
importação de diesel entre janeiro e maio de 2022, mas o
equivalente a 11,9% do volume total autorizado para compra no
exterior. Historicamente, a estatal produz ao menos três quartos de
todo o diesel consumido no País, mas também importa combustível
para cumprir contratos de fornecimento.
Esforço em importar
Licenças para importar diesel têm validade de 90 dias renováveis
por igual período. Essas autorizações não são uma garantia de
importação à frente, mas agentes do setor confirmam que a explosão
dos números traduz o momento do mercado de combustíveis, indicando
esforço das empresas para importar volumes maiores ou pelo menos
diversificar sua origem à frente.
O painel dinâmico da ANP sobre fornecimento de combustível
mostra que, entre produção local e importação, a Petrobras forneceu
81% do diesel do País ou 13,6 milhões de metros cúbicos de
combustível nos quatro primeiros meses do ano. O porcentual é
inferior ao fornecido pela estatal em 2019 (85,12%), o último ano
antes da pandemia, com demanda doméstica mais estável.
Diesel
O consumo brasileiro de diesel aumenta sobretudo entre agosto e
outubro, quando é puxado pela colheita e transporte da safra
agrícola. Paralelamente, diz Felipe Perez, estrategista de
downstream da consultoria S&P Global, a demanda global no pós
pandemia retorna mais rápido que a oferta e as cargas do refinado
devem se tornar cada vez mais disputadas, em um mercado
internacional pressionado pelo desvio da demanda europeia.
Até o início da guerra na Ucrânia, cerca de 60% do diesel
consumido pelos europeus vinha da Rússia, porcentual em queda
gradual devido às sanções. Segundo Perez, a alternativa natural da
Europa é o diesel das refinarias do Oriente Médio e Ásia, mas as
cargas americanas do Golfo do México também entram na alça de mira
europeia.
Oferta apertada
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP),
Eberaldo de Almeida, afirma que os europeus já têm importado diesel
da costa do Atlântico e que o mercado está mais curto. Isso, diz,
fica claro pelo maior tempo de espera por cargas e pela queda de
volume disponível para encomendas. “Antes havia pelo menos 15
navios de diesel disponíveis, hoje são dois ou três”, diz
Almeida.
É justamente na Costa do Golfo que as empresas brasileiras
compram a maior parte do diesel importado. Segundo um executivo do
setor, no entanto, aos poucos a importação também se volta para a
Ásia, sobretudo a Índia, cujas cargas têm frete mais longo que o
americano, mas os preços começam a ficar mais competitivos –
indianos têm comprado óleo cru russo para refino com prêmio de até
40%, o que barateia a produção de diesel, afirma Marcelo de Assis,
analista da IHS Markit.
“A ideia (com as licenças) é diversificar sim, tentar abrir o
leque o máximo possível para buscar oportunidades de custo, mas
também de oferta, porque não vai ter diesel à disposição em todos
os lugares nos próximos meses”, diz o diretor de distribuidora.
Golfo
Mesmo assim, os dados da ANP mostram que 76,4% do volume
autorizado e 80% das licenças emitidas em 2022 têm como alvo o
mercado americano. Em volume, o porcentual voltado aos EUA subiu
para 84% nos dois últimos meses, sugerindo que a costa do Golfo
deve seguir como a principal região buscada pelos importadores
brasileiros de diesel. Em seguida, no ano, surgem os Emirados
Árabes Unidos (7,4% do volume); Índia (5,2%) e Coreia do Sul
(3,77%).
Alta de 23,9% na importação
Levantamento do Ipea com base em dados da ANP mostra que a
importação efetiva de diesel nos primeiros quatro meses do ano foi
de 4,7 milhões de metros cúbicos e supera em 23,9% o registrado no
mesmo período de 2021 e em 41,6% o de 2019, o último ano sem
pandemia. Em 2021, informa o Ipea, o Brasil consumiu 62 milhões de
metros cúbicos de diesel, o que inclui o volume de biodiesel
adicionado à mistura. Desse volume, 14,4 milhões ou 23,3% do total
foram importados.
O ritmo da importação comparado ao consumo é maior esse ano.
Segundo dados da ANP, entre janeiro e maio essa proporção chega a
26,8%, o percentual mais alto da série iniciada em 2017 para o
período. Em 2020, essa dependência externa até maio era de 24% e,
em 2019, de 21,8%. A fatia da estatal no volume importado até maio
é de 35,4%, próximo ao que se via em 2019 (35,7%), mas abaixo dos
42,6% do ano passado.
Informações Broadcast
PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Historical Stock Chart
From Apr 2024 to May 2024
PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Historical Stock Chart
From May 2023 to May 2024