A Marfrig (BOV:MRFG3) adquiriu na Bolsa de Valores 24,23% de participação em outra gigante dos alimentos, a BRF, em um movimento que está sendo interpretado no mercado como uma tentativa de fusão da companhia de proteína animal de Marcos Molina com sua concorrente.

O negócio foi confirmado pela BRF (BOV:BRFS3) no início da noite de ontem.

O Estadão/Broadcast apurou que estiveram na ponta vendedora a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que tem uma fatia de 9,16% da dona da Sadia, e a Kapitalo Investimentos, dona de 5%, além de outros acionistas. A operação foi feita por meio de leilão em Bolsa e teria movimentado US$ 600 milhões (cerca de R$ 3,2 bilhões), com recursos diretos do caixa que a companhia tinha disponível no trimestre.

Por enquanto, as empresas devem continuar suas atuações independentes, com a compra tendo sido apenas uma oportunidade para a Marfrig aumentar a sua participação.

Rumores sobre uma possível fusão entre as duas empresas de alimentos vêm movimentando o mercado desde quinta-feira. Ontem, as ações da BRF registraram alta de mais de 16%, fechando cotadas a R$ 26,93. Os papéis da Marfrig tiveram queda de 5,2% no dia, para R$ 18,05.

A compra das ações na Bolsa deve ser apenas o primeiro passo da ofensiva da Marfrig sobre a BRF. Esse movimento, de acordo com fontes de mercado, deve ser consolidado no longo prazo, com o BTG Pactual e o JPMorgan como mediadores financeiros.

O segundo passo da estratégia seria aguardar a próxima Assembleia-Geral de Acionistas (AGE) da BRF, em abril de 2022, para tentar destituir o conselho de administração, indicando nomes mais alinhados com a Marfrig. Esse seria o momento para engatar uma fusão mais abrangente.
Por isso, ao comprar os papéis em Bolsa, a estratégia da empresa de Molina foi mirar os fundos de pensão da Petrobrás (Petros) e do Banco do Brasil (Previ), que foram contra a proposta de combinação feita em 2019 pela empresa.

Na época, as duas companhias ensaiaram uma união, mas, 40 dias após o anúncio do acordo, voltaram atrás por não terem conseguido chegar a um consenso sobre temas de governança corporativa, conforme comunicado divulgado na ocasião. Fontes afirmaram, na época, que acreditavam que, em algum momento, uma tentativa de parceria seria retomada – o que agora se confirmou.

“Com uma participação de 10% na BRF já tornaria possível propor mudanças no comando da empresa, mas, para que isso resulte em fusão, ainda haverá um caminho”, disse uma fonte que preferiu não se identificar. Ela lembra que um movimento parecido foi conduzido pela CSN, que adquiriu há dez anos 20% da Usiminas. “A diferença é que a Usiminas tinha no controle um bloco de acionistas, e a BRF tem o controle pulverizado, eventualmente dificultando os planos”, acrescenta. Entre os sócios da dona das marcas Sadia e Perdigão, está a Península, da família de Abilio Diniz.

A Marfrig, que se fortaleceu nos últimos anos, ganha relevância no varejo brasileiro como sócia minoritária da BRF. A companhia, que tem hoje a maior parte das receitas em dólar, mostrou um forte balanço no primeiro trimestre, com lucro de R$ 279 milhões, revertendo prejuízo no mesmo período do ano passado. A empresa chegou a ser dona da Seara, mas, por dificuldades financeiras à época, repassou a marca à rival JBS.

Do ponto de vista de mercado, os negócios são vistos como complementares, uma vez que a Marfrig é mais forte em bovinos, enquanto a BRF tem atuação forte nos segmentos de suínos e de aves. “A aquisição da participação ora mencionada visa a diversificar os investimentos da Marfrig em um segmento que possui complementaridades com seu setor de atuação”, disse a BRF, em comunicado.

VISÃO DO MERCADO

Ágora 

“Desconsiderando o valor estratégico de ter se tornado o maior acionista de referência da BRF, o preço das ações da Marfrig deve subir 14% para refletir o ganho de valor de mercado estimado das ações da BRF que recentemente adquiriu na Bolsa”, comentam os analistas Leandro Fontanesi e Ricardo Françao.

Pelos cálculos da dupla, a Marfrig pagou na média R$ 22 por ação para atingir 24% de participação na BRF — reportagens mencionam que a Marfrig pagou aproximadamente US$ 800 milhões pelas ações.

Ágora tem recomendação de compra para Marfrig com preço-alvo de R$ 25,00…

Ágora tem recomendação neutra para BRF com preço-alvo de R$ 31,00…

Bradesco BBI

“Embora a reação inicial das ações da Marfrig na sexta-feira tenha sido negativa (ações caíram 5,20% na sexta), uma vez que se tornou de conhecimento público que foi ela quem comprou ações da BRF desde a semana passada, estimamos que seu investimento já rendeu R$ 1,1 bilhão dada a valorização das ações … tudo o mais mantido igual, só isso chama
por um aumento de 14% no preço das ações da Marfrig. Além disso, vemos o Marfrig como um player melhor em um
possível fusão com a BRF. Já as ações da BRF subiram 29% na semana passada, agora resultando em uma alta limitada de preço-alvo. A BRF disse que nenhuma mudança na gestão deve ser esperada (não está claro se a estrutura corporativa pode mudar no futuro)”, apontam os analistas.

Bradesco BBI elevou a recomendação para compra e preço-alvo de R$ 22,00 para R$ 25,00.

Bradesco BBI reduz a recomendação da BRF para neutro, com preço-alvo de R$ 32,00.

BTG Pactual 

O BTG Pactual afirmou em relatório que a aquisição de uma fatia de 24,23% da BRF feita pela Marfrig pode ser motivo de preocupação para ambas as empresas, mencionando a falta de clareza estratégica do movimento.

Para analistas do banco, o mais lógico a ser feito é que a Marfrig comece a trabalhar para uma integração mais profunda com a BRF, que eventualmente resultaria em uma fusão. Apesar de que, nesse momento, “uma oferta pública para adquirir a totalidade das ações da BRF seria muito grande”, mesmo para a Marfrig, escrevem Thiago Duarte e Henrique Brustolin.

 “Mas sem uma integração adequada dos negócios, os benefícios da transação para os acionistas da Marfrig ou da BRF são difíceis de avaliar”, dizem eles. A transação representa uma mudança ousada na estratégia da Marfrig, após anos defendo os benefícios de ser uma empresa focada em carne bovina e geograficamente diversificada, mas um portfólio de produtos mais variado deve permitir ganhos financeiros e uma redução de custos, afirma o BTG.

No entanto, o BTG afirma que a estratégia de crescimento da empresa pode causar preocupação se tais margens começarem a cair, o que eles acreditam que deve acontecer. Resta saber se a Marfrig será capaz de gerar caixa o suficiente antes que isso ocorra. Atualmente, a aquisição não significa muito para os níveis de alavancagem da Marfrig, já que a empresa tem forte geração de caixa graças às sólidas margens de seus negócios nos Estados Unidos.

Itaú BBA

O Itaú BBA aponta que o sucesso final de qualquer combinação potencial de ambas as empresas dependerá em grande parte de em quanto tempo o momento positivo na operação da Marfrig na América do Norte será sustentado e a rapidez com que a empresa pode se desalavancar.

“Enquanto prevemos pouca mudança no status quo da BRF (mesmo no pior cenário, as coisas devem permanecer
quase como estão), o esforço de desalavancagem da Marfrig poderia ser prejudicado se o processo de recuperação ou o momentum da operação da BRF se mostrar mais desafiador do que o esperado – ou se o momentum operacional da National Beef diminuir mais cedo que o esperado”, avaliam os analistas.

Itaú BBA mantém recomendação de compra para Marfrig com preço-alvo de R$ 26,00…

Itaú BBA tem recomendação neutra para a BRF, com preço-alvo de R$ 25,00…

XP Investimentos 

A aquisição de ações da BRF feitas na última sexta-feira pela Marfrig, via opções e leilões, ainda não define qual será o futuro de ambos os frigoríficos, na visão da XP Investimentos. Apesar de a empresa controlada por Marcos Molina ter passado a deter participação de 24,23% do capital da dona das marcas Sadia e Perdigão, tornando mais real uma possível fusão, os analistas Leonardo Alencar e Larissa Pérez, não têm clareza em relação aos próximos passos.

“Até o momento, não há certeza se a fusão entre as duas empresas acontecerá”, afirmam, em relatório. Alencar e Larissa lembram que conversas como essas já aconteceram no passado, em maio de 2019. “Mas menos de dois meses depois do anúncio, a possibilidade de fusão foi cancelada”, comentam os analistas da XP, lembrando que, à época, o principal motivo conhecido eram as discussões sobre a estrutura societária.

Contudo, eles lembram que desde então, surgiram oportunidades maiores para empresas de proteína animal, especialmente aquelas focadas em carne bovina e suína. Nesse sentido, os analistas observam que um surgimento de uma “nova empresa” deve levar em conta “zero” sobreposição na produção de proteína animal e “pouca” sobreposição geográfica. Ao mesmo tempo, a “nova empresa” deveria ter “sinergias comerciais valiosas”.

“A BRF é forte no varejo, enquanto a Marfrig está focada no food service, canais que crescem rapidamente nos mercados emergentes, sendo a China um dos mais importantes. Um portfólio mais diversificado daria maior poder de precificação e colocaria a nova empresa em uma posição melhor para aumentar a participação no mercado”, afirmam.

Nesse sentido, Alencar e Larissa, analistas de Agro, Alimentos e Bebidas da XP, o maior desafio para uma eventual fusão acontecer seria, principalmente, o fato de Marfrig e BRF reunirem diferentes cadeias produtivas em diferentes países. “A operação de commodities é mais nervosa, enquanto produtos processados precisam de uma estrutura melhor e de um prazo mais longo para amadurecer”, observam.

Segundo eles, essa questão de “fit cultural” pode até parecer ser um “detalhe pequeno”. “Mas diante de empresas com DNAs diferentes, pode-se esperar diferentes culturas de gestão, de métricas de desempenho e, portanto, um fusão que pode nunca ter fim”, concluem os analistas da XP.

(Com informações do Estadão)

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